sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Forma e Gênero musical, não encha mais linguiça nas suas provas!



           Tive a honra de ter como professor de Análise musical, o Dr Roberto Saltini, um professor fenomenal, que tem uma didática bem humorada e cotidiana que ajuda na compreensão de qualquer assunto em relação a música. Saltini veio a ser o orientador do meu projeto de pesquisa, o qual falarei mais adiante no blog, que abrange a teoria diatônica recente a favor do ensino elementar de música hoje em dia. Garanto que apesar de tudo, é muito divertido! E por que estou falando desse professor agora ? Porque ele me deu a definição mais louvável do que é forma e gênero na música. Ele define forma como “jeitão” de construir e organizar as ideias musicais e gênero como “o que é essa obra?” como se fosse organizá-las numa prateleira de CDs. Simples assim e já se vão emboras dúvidas se Fuga é gênero ou forma, o que é Sonata e forma sonata e etc. Pois bem, nesse post vou colocar a vocês vários tipos de formas e gêneros, com uma breve definição de cada. Fica para um próximo texto as definições, curiosidades e porquês de cada um dos temas abordados. Neste momento o importante vai ser a diferenciação. VAMOS LÀ!
           Um compositor procura sempre prender a atenção e favorecer a memorização de sua obra na mente dos ouvintes, além de criar um universo encantador por trás das notas musicais. Esse universo é criado por dois fatores presentes em qualquer obra de renome: REPETIÇÃO E CONTRASTE

“È necessário alguma repetição das ideias musicais para dar certa unidade à peça – para melhor articular a composição(...)Essas repetições devem ser encaradas como pontos de referência que servem para orientar-nos durante a peça.” (BENNETT, 1988)
           Parágrafo claro que nos ilumina sobre a importância da repetição, agora, e sobre o contraste ? O contraste pode ser definido por alterações de tonalidade, instrumentação e dinâmica. Podemos repetir uma frase em outro tom ou com outros instrumentos e já temos um contraste bacana. Podemos gerar contraste mudando tudo e temos uma seção B da música. Percebem a relação da repetição e contraste ? Totalmente ligados.
          E assim podemos definir como forma musical aqueles elementos que vão trabalhar as repetições e contrastes dentro da composição. O “Jeitão” de se escrever música. Temos como relevantes formas musicais: Forma Binária; Forma Ternária; Rondó e Tema com variações. O baixo ostinato, muito presente na música do período Clássico, é um exemplo de forma também. Vamos experimentar a escuta formal de uma música ?
- Haendel (1685 - 1750)  : “La Réjouissance” de Music for the Royal Fireworks ( Música para os fogos de artificios reais)

Para entrarmos num acordo aqui é preciso separar a música em algumas seções que se repetem. 
 Em minutos:
Parte A: 0:00 – 0:16                          Repetição: 0:17 – 0:32
Parte B: 0:33 - 0:52                          Repetição: 0:53 – 1:13
Parte A e B sem repetição: 1:14 – fim
          
         Como a música contém duas partes bem distintas, usamos o nome de Forma Binária para a sua composição. È importante notar os contrastes tanto entre as partes como entre as repetições. Instrumentação e dinâmica são a chave para criar contraste e manter viva a energia da peça. E se quisermos definir essa obra dentro de um Gênero? Bom, ela seria uma Dança Barroca dentro de uma Suíte, um aglomerado de danças.
          Pois bem, terminada a definição sobre o que é forma, vamos partir para os gêneros. Vamos olhar no dicionário, por que às vezes é interessante! (Risos). Gênero: Assunto ou natureza comum a diversas produções artísticas ou literárias. Removendo as definições sobre biologia, esta é a que nos importa para o assunto. Se gênero está ligado à produção, ou seja, ao produto final, logo não faz parte do processo de construção. Já matamos a dúvida entre Sonata e forma Sonata. A Sonata é gênero, que nasce no período Barroco, como a Cantata fazia ao canto, a Sonata fez aos instrumentos de soar mais o acompanhamento harmônico.
          A forma sonata, implícita no nome, é uma forma, ou seja, jeitão de se escrever. As sonatas que continham 4 movimentos, passam a ter alguns deles escritos em forma sonata, que sugere um esquema de construção, divisão e elaboração deles. Nada a ver com a Sonata gênero. E o exemplo da Fuga ? Essa é interessante porque ela pode ser os dois! Existe a Fuga tradicional, de Bach, com todos os seus episódios e sujeitos e também temos Fuga presente em algumas passagens de obras aleatórias, esses trechos são chamados de: Fugato. Momentos que sugerem imitação e pequenos sujeitos que logo retornam a textura convencional.
         
Outros grandes exemplos de Gênero são as Sinfonias, o Concerto, as Óperas, o Poema Sinfônico e etc. Eles podem ser construídos a partir de vários sistemas formais citados antes, claro que existem algumas convenções como usar a Forma Sonata em primeiros movimentos de Sinfonias Clássicas, mas o importante aqui é distinguir.
          
Definição do que é forma sonata, concerto, fugato e etc, serão temas de próximos posts, que terão exemplos auditivos e visuais (partituras) para análise. Espero que já tenha aliviado um pouco as dúvidas e nos vemos no próximo! Obrigado!

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

  • BENNETT, Roy - Forma e estrutura na Música, Rio de Janeiro, Editora Jorge Zahar 1988, tradução de Luiz Carlos Csëko.

  • BENNETT, Roy - Elementos Básicos da Música, tradução, Maria Teresa de Resende Costa, Rio de Janeiro, Editora Jorge Zahar 1990. 

  • BOWEN, Hannah - The Complete Classical Music Guide, Dk Publishing, New York 2012

  • Dicionário completo da Língua Portuguesa, Editora Publifolha 2000 - São Paulo

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