Tive a honra de ter como professor de Análise musical, o Dr
Roberto Saltini, um professor fenomenal, que tem uma didática bem
humorada e cotidiana que ajuda na compreensão de qualquer assunto em
relação a música. Saltini veio a ser o orientador do meu projeto
de pesquisa, o qual falarei mais adiante no blog, que abrange a
teoria diatônica recente a favor do ensino elementar de música hoje
em dia. Garanto que apesar de tudo, é muito divertido! E por que
estou falando desse professor agora ? Porque ele me deu a definição
mais louvável do que é forma e gênero na música. Ele define forma
como “jeitão” de construir e organizar as ideias musicais e
gênero como “o que é essa obra?” como se fosse organizá-las numa prateleira de CDs. Simples assim e já se vão
emboras dúvidas se Fuga é gênero ou forma, o que é Sonata e forma
sonata e etc. Pois bem, nesse post vou colocar a vocês vários
tipos de formas e gêneros, com uma breve definição de cada. Fica
para um próximo texto as definições, curiosidades e porquês de
cada um dos temas abordados. Neste momento o importante vai ser a
diferenciação. VAMOS LÀ!
Um compositor procura sempre prender a atenção e favorecer a
memorização de sua obra na mente dos ouvintes, além de criar um
universo encantador por trás das notas musicais. Esse universo é
criado por dois fatores presentes em qualquer obra de renome:
REPETIÇÃO E CONTRASTE.
“È necessário alguma repetição das ideias musicais para dar
certa unidade à peça – para melhor articular a
composição(...)Essas repetições devem ser encaradas como pontos de
referência que servem para orientar-nos durante a peça.”
(BENNETT, 1988)
Parágrafo claro que nos ilumina sobre a importância da
repetição, agora, e sobre o contraste ? O contraste pode ser
definido por alterações de tonalidade, instrumentação e dinâmica.
Podemos repetir uma frase em outro tom ou com outros instrumentos e
já temos um contraste bacana. Podemos gerar contraste mudando tudo e
temos uma seção B da música. Percebem a relação da repetição e
contraste ? Totalmente ligados.
E assim podemos definir como forma musical aqueles elementos que
vão trabalhar as repetições e contrastes dentro da composição. O
“Jeitão” de se escrever música. Temos como relevantes formas
musicais: Forma Binária; Forma Ternária; Rondó e Tema com
variações. O baixo ostinato, muito presente na música do período
Clássico, é um exemplo de forma também. Vamos experimentar a
escuta formal de uma música ?
- Haendel (1685 - 1750) : “La Réjouissance” de Music for the Royal
Fireworks ( Música para os fogos de artificios reais)
Para entrarmos num acordo aqui é preciso separar a música em algumas seções que se repetem.
Em minutos:
Parte A: 0:00 – 0:16 Repetição: 0:17 – 0:32
Parte B: 0:33 - 0:52 Repetição: 0:53 – 1:13
Parte A e B sem repetição: 1:14 – fim
Como a música contém duas partes bem distintas, usamos o nome
de Forma Binária para a sua composição. È importante notar os
contrastes tanto entre as partes como entre as repetições.
Instrumentação e dinâmica são a chave para criar contraste e
manter viva a energia da peça. E se quisermos definir essa obra
dentro de um Gênero? Bom, ela seria uma Dança Barroca dentro de uma
Suíte, um aglomerado de danças.
Pois bem, terminada a definição sobre o que é forma, vamos
partir para os gêneros. Vamos olhar no dicionário, por que às
vezes é interessante! (Risos). Gênero: Assunto ou natureza comum a
diversas produções artísticas ou literárias. Removendo as
definições sobre biologia, esta é a que nos importa para o
assunto. Se gênero está ligado à produção, ou seja, ao produto
final, logo não faz parte do processo de construção. Já matamos a
dúvida entre Sonata e forma Sonata. A Sonata é gênero, que nasce
no período Barroco, como a Cantata fazia ao canto, a Sonata fez aos instrumentos de soar mais o acompanhamento harmônico.
A forma sonata, implícita no nome, é uma forma, ou seja, jeitão
de se escrever. As sonatas que continham 4 movimentos, passam a ter
alguns deles escritos em forma sonata, que sugere um esquema de
construção, divisão e elaboração deles. Nada a ver com a Sonata
gênero. E o exemplo da Fuga ? Essa é interessante porque ela pode
ser os dois! Existe a Fuga tradicional, de Bach, com todos os seus
episódios e sujeitos e também temos Fuga presente em algumas
passagens de obras aleatórias, esses trechos são chamados de:
Fugato. Momentos que sugerem imitação e pequenos sujeitos que logo
retornam a textura convencional.
Outros grandes exemplos de Gênero são as Sinfonias, o Concerto,
as Óperas, o Poema Sinfônico e etc. Eles podem ser construídos a
partir de vários sistemas formais citados antes, claro que existem
algumas convenções como usar a Forma Sonata em primeiros movimentos
de Sinfonias Clássicas, mas o importante aqui é distinguir.
Definição do que é forma sonata, concerto, fugato e etc, serão
temas de próximos posts, que terão exemplos auditivos e visuais
(partituras) para análise. Espero que já tenha aliviado um pouco as
dúvidas e nos vemos no próximo! Obrigado!
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
- BENNETT, Roy - Forma e estrutura na Música, Rio de Janeiro, Editora Jorge Zahar 1988, tradução de Luiz Carlos Csëko.
- BENNETT, Roy - Elementos Básicos da Música, tradução, Maria Teresa de Resende Costa, Rio de Janeiro, Editora Jorge Zahar 1990.
- BOWEN, Hannah - The Complete Classical Music Guide, Dk Publishing, New York 2012
- Dicionário completo da Língua Portuguesa, Editora Publifolha 2000 - São Paulo
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