terça-feira, 30 de agosto de 2016

IV Seminário de Regência em Tatuí - Uma aula de organização e respeito.

          Olá caros amigos leitores. Músicos ou não músicos. Maestros, instrumentistas ou ambos. Hoje trago pra vocês um relato das experiências que vivi em Tatuí, participando do IV seminário de regência no Conservatório da cidade. Além de informar a quem queira participar de um seminário pela primeira vez e tem curiosidade, o propósito deste vídeo é incentivá-los a participar de seminários e tirarem o maior proveito desta experiência de imersão.

         Coordenado pelo professor e maestro Dario Sotelo, com participação do maestro americano Matthew George e da incrível Banda Sinfônica do Conservatório de Tatuí, o seminário funciona como uma grande fonte de trocas entre os participantes. Estes são separados entre regentes ativos e participantes. Para ser um regente ativo, e atuar nos concertos, foi necessário o envio de um vídeo e ser aprovado numa seleção feita pela direção. Os participantes bastavam se inscrever e acompanhar. 
Eu (Lennon Strabelli) e o maestro Matthew George

          O evento teve a duração de 4 dias corridos - 22/08/2016 a 25/08/2016 - e os dias seguiam com um esquema parecido: pela manhã, participamos nos ensaios abertos. Os regentes ensaiavam com a Banda e os professores davam os refinamentos necessários. Experiência única para nós pois parecia como uma masterclass de regência. Muita informação foi retirada desta prática. A incrível dedicação da banda e dos maestros fizeram a diferença nesta etapa matutina do evento. 

        A tarde era o momento das palestras. Neste período, foram tratados diversos assuntos, unidos pelo fio da regência de banda sinfônica, que um profissional deve lidar. Temas como: "comunicação gestual"; "trabalhando com o ritmo" e "trabalho de preparação de partitura" servem de exemplos para esses momentos de aprendizado. Ao fim da tarde, tivemos uma hora aplicada a criação de um documento, como uma pesquisa detalhada, sobre o nosso trabalho como regentes de bandas sinfônicas em nosso município. A ideia desses encontros era favorecer a troca de experiências e ajudar ao Dario em sua nova empreitada como presidente da WASBE (World Association for Symfonic Band and Ensembles) na qual já foi eleito e assumirá o cargo em 2017, sendo o primeiro presidente sul-americano da organização. Ressalto aqui a importância dos músicos ficarem atentos a tudo o que nos traga benefícios no campo da arte, e com Dario na presidência de uma organização importantíssima como esta, temos chances de elevar o nosso nível, tanto de sensibilidade, como o de condições de trabalho. Deixo aqui o site para maiores informações e a possibilidade de se tornar um sócio da WASBE.

        Então a noite era o momento da realização. Os concertos abertos ao público com os regentes a frente da Banda e executando o repertório. 30 minutos antes, Dario dava a voz aos maestros contarem um pouco a história de suas obras, para posicionar o público e praticarem esse tipo de fala. O repertório realizado nestes dias, caso alguém queira pesquisar foi o seguinte:


 



Boris Pigovat (1956) - Lights from the Yellow Star: Music of Sorrow and Love
Martin Ellerby - Cinnamon Concerto for Saxophone
David Gillingham - Apocalyptic Dreams - Sinfonia Nº1
C. Wittrock - Abertura "Lord Tullamore" e Spanish Dance for English Horn and Band
J. Curnow - Canticle of the Creatures
R. Korsakov - Concertino para Trombone e Banda
H. Nogueira - Cinco Miniaturas Brasileiras
Thomas Doss - Magic Overture
Yusuke Fukuda - Symphonic Dances
Robert Jager - Variations on a Theme of Robert Schumann
Luis Soto Márques - Jaibamá
Philip Sparke - A Pittsburg Overture
Jess Turner - Concertino Caboclo para Flauta,  Piccolo e Banda
Alfred Reed - Música para Hamlet
Paul Hart - Cartoon
Gordon Jacob - Celebration Overture
Vaughan Williams - Concerto for Tuba
Franck Ticheli - Postcard
Jose I. Blesa - Mare Tenebrosum










        Assim se seguiram os 4 dias. Éramos em mais de 200 pessoas. Tudo aconteceu no Teatro Procópio Ferreira e muito bem liderado e organizado por Dario, que sempre exigia precisão nos horários, afinal nós como regentes temos que espelhar isso em nossos grupos se quisermos obter resultados e um bom uso do tempo disponível.         

       A cidade é extremamente acolhedora. Quem anda com a credencial do conservatório tem desconto em restaurantes e é bem visto pelos moradores. Tatuí tem pouco mais de 100 mil habitantes e recebe pessoas do Brasil inteiro para o seu Conservatório e as atividades artísticas lá contidas. Fica a aproximadamente 160km de São Paulo e não tive problemas com estadia e alimentação. A cidade tem de tudo e com bastante opções.

       Sempre me encontrei numa esfera mais orquestral e coral da música e essa foi uma experiência de somatória incrível. O universo lá é o de banda sinfônica. Muitas vozes, uma grade repleta de instrumentos, muita transposição, muitas cores (timbres) diferentes, uma percussão enorme e um maestro que se propõe a reger tudo aquilo.
Matthew em um dos ensaios abertos, demonstrando algo para os regentes


       Pretendo voltar, pois tivemos a ótima notícia de que o próximo seminário está marcado para Junho/2017. Convido todos vocês a conhecerem o site do conservatório e a lerem a matéria oficial sobre o seminário. Participem desses encontros e ampliem o campo de visão/atuação de regentes. Coloquem em prática as trocas vistas aqui e passem adiante as informações para que possamos sempre evoluir o campo da regência. Meu muito obrigado ao Dario, ao Matthew George, à Banda Sinfônica do Conservatório e À Banda da EMMSP, regida por Dario e que nos acompanhou em dois dias da nossa jornada. Até o próximo!


Final de concerto, os regentes alinhados a frente da Banda Sinfônica do Conservatório de Tatuí.

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Tudo Outra vez - LS Jack: Análise completa das músicas deste disco que marcou uma geração.




Revisão do texto: Ana Paula Porto - do Blog Abrindo Aspas e Asas



 
Ano: 2003
Gravadora: Indie Records
Produção: Rick Bonadio
Produção executiva: Beto Coutinho
Assistente de produção: Thiago Endrigo
Direção artística: Líber Gadelha
Coordenação artística: Zé Henrique e Marcelão 

  O post de hoje vem, especialmente, para apresentar e comentar uma obra-prima da banda LS Jack, que deu muitas cores ao meu início como músico, que é o álbum Tudo Outra Vez (2003). Realizado pela gravadora Indie Records, produzido por Rock Bonadio e dirigido por Liber Gadelha, o disco traz 13 canções interpretadas por Vitor Queiroz ao baixo; Bicudo na bateria; Sérgio Ferreira e Sérgio Morel nas guitarras; além de Marcus Menna nos vocais. Este último, como principal letrista, tenta absorver da natureza, elementos composicionais que façam ligação com o cotidiano. 

A proposta da banda é fazer um pop rock, mas para que não se torne austero, Menna conduz essa ligação com sensibilidade e simplicidade, transformando as canções em algo leve, alegre e trazendo fundamento para as letras. O vocalista mesmo diz, ao ser entrevistado pelo site Universo Musical, que “a música não é só filosofia, também é entretenimento, e o LS Jack tem esse lado. Muitas pessoas querem analisar as letras das músicas como uma obra literária. Se fosse assim, Carlos Drummond de Andrade teria sido o maior vendedor de discos do Brasil”. 

Portanto, não farei aqui uma análise filosófica das letras do disco, mas vou tentar demonstrar pontos interessantes que relacionam a espiritualidade do compositor – que faz parte do movimento Hare Krishna – à excelente, invejável e estudada técnica de prosódia, que é infalível neste disco e toda a instrumentação. O que faz jus ao gênero canção, onde letra e música (instrumentos e melodia) se complementam.

         A banda faz parte do estilo pop rock dos anos 2000 e com formação clássica de boy band, mas que traz muita fundamentação para o gênero “canção”. Mesmo que tenha estourado graças aos sucessos como “Carla” ou “A Carta”, isso não a diminui a nível de “passageira”, pois, acredito eu, ainda estão para nascer formações que juntem instrumentação adequada a letristas que carreguem tanta sensibilidade e força de vontade, tal como o líder do LS Jack carrega. 

      Bom, vamos às faixas! Para quem não conhece, bem-vindo a um mundo de verdadeiras canções classificadas pelo gênero e para quem conhece, é sempre bom voltar e “ouvir com outros olhos”.

Faixas

1 – Sem Radar
Marcus Menna

2 – Espírito Meu
Marcus Menna e Vitor Queiroz

3 – Nossas Flores
Marcus Menna e Vitor Queiroz

4 – Outra Vez
Marcus Menna, Vitor Queiroz, Sérgio Morel, Zé Henrique e Marcelão

5 – Amanhã Não Se Sabe
Sérgio Brito

6 – Aquele Olhar (Over My Shoulder)
Mike Rutherford e Paul Carrack / Versão: Rick Bonadio e Marcus Menna

7 – Mais Que Demais
Marcus Menna, Sérgio Morel, Bicudo e Vitor Queiroz

8 – Sob O Céu
Marcus Menna, Bicudo, Sérgio Ferreira e Alexandre Lalas

9 – Tarde Demais
Marcus Menna e Sérgio Morel

10 – Alucinação
Marcus Menna

11 – Você Me Faz Tão Bem
Marcus Menna

12 – Se For, Será
Marcus Menna, Vitor Queiroz, Sérgio Ferreira e Sérgio Morel

13 – Sem Radar (Versão Acústica)
Marcus Menna


1         1 – “Sem Radar” –  Marcus Menna
         
     Abrindo com excelência este disco, a canção traz uma amostra de todo conteúdo que será desenvolvido nas letras e no instrumental da banda daqui em diante. Felicidade, espiritualidade, sonhos e amor, além da novidade de tratar do “desamor”. A canção ficou conhecida, fez sucesso e virou hit. Foi regravada por diversos artistas e o próprio disco ganha ao final, uma regravação acústica.
É importante destacar o peso das guitarras e a técnica apurada de Menna nos vocais e na composição. Versos como “Morcego sem radar, voando a procurar, quem sabe um indício teu e “você me entorpeceu e desapareceu mostram um caráter de desamor, que será explorado no disco e que marcaram época para a música pop. Aqui não se fala de baladas, de festas e de ostentação, mas sim de horizontes amorosos, conexões do simples e do natural com o humano e tudo isso traduzido com facilidade para a linguagem da canção, que é a junção da letra com os instrumentos, cada qual tendo o seu papel.

É só me recompor
Mas eu não sei quem sou
Falta um pedaço teu
Preciso me achar
Mas em qualquer lugar estou
Voando sem direção eu vou
Eu sigo sem radar
Voando a procurar
Quem sabe um indício teu
Queimando toda fé
Seja o que Deus quiser eu sei
Que amargo é o mundo sem você

Você me entorpeceu
E desapareceu
Vou ficando sem ar
O mundo me esqueceu
O sol escureceu
Vou ficando sem ar
Esperando você voltar

Escrevendo minha própria lei
Desesperadamente eu sei
Tentando aliviar
Tentando não chorar
Por mais que eu tente esquecer
Memórias vêm me enlouquecer
Minha sentença é você 



2         2 - “Espírito meu” - Marcus Menna e Vitor Queiroz
Lindíssima canção! Retrato de uma experiência sobrenatural a nível de consciência. O interlocutor se refere a um sonho, onde diz: “tão real que até senti a tua boca a me ferir, mas te perdoei, ou seja, a realidade e o desejo por esse sonho era tanta, que ele sentiu a dor de ser ferido na boca e até perdoou a outra pessoa!
 Espírito meu beijou o seu, esse verso reflete a crença sobre o espírito, na qual as experiências vividas em um sonho, na verdade são vivências pelo espírito, e, dadas as proporções que a letra nos oferece, podemos crer que o outro espírito também queria estar ali. Por isso, no refrão ele diz: “então vem, pra gente ser feliz”, sendo esse o momento de realidade da música, de consciência.
A instrumentação segue à risca de um rock pesado, com guitarras distorcidas – cheias de Phaser para dar essa sensação alucinógena – e uma bateria e baixos cheios de pegada! Uma das mais incríveis canções deste disco, na minha opinião.
                No Festival de Verão de 2004, lá em Salvador, Marcus Menna canta a segunda estrofe de versos diferente do que fora gravado no disco. A versão original seria:
Eternamente eu vou lembrar
Não adianta nem tentar
Disfarçar
Eu sei que era você

E ele canta:
Em qualquer plano o seu astral
Incrivelmente especial
Espacial
Flutuo por você

Detalhe para o aprofundamento astrológico retratado nesta “2ª versão” e que nos   revela esse lado do cantor. Um lado místico, espiritual e transcendente ao humano.




Ontem não quis acordar
Fiz de tudo prá voltar
A sonhar
Eu sei que era você
Tão real que até senti
A sua bôca me ferir
Mas te perdoei...
Espírito meu beijou, o seu
Espírito meu amou, o seu
 
Então vem
Prá gente ser feliz
Vai deixando a solidão sair
Encontrei o tempo que perdi
Porque sem você aqui
O meu mundo não sorri                      
Prá mim...                                                 

Eternamente eu vou lembrar
Não adianta nem tentar
Disfarçar
Eu sei que era você
Que seja assim até o fim
Nessa vida de ilusão
Um sonho bom
Eu sei que te encontrei...
Espírito meu beijou, o seu
Espírito meu amou, o seu

Então vem
Prá gente ser feliz
Vai deixando a solidão sair
Encontrei o tempo que perdi
Porque sem você aqui
O meu mundo não sorri
Prá mim, prá mim...
Espírito meu beijou, o seu
Espírito meu amou, o seu

Então vem
Prá gente ser feliz
Vai deixando a solidão sair
Encontrei o tempo que perdi
Porque sem você aqui
O meu mundo não sorri
Porque sem você aqui
O meu mundo não sorri
Prá mim...


3               3 - “Nossas Flores” - Marcus Menna e Vitor Queiroz
Canção bem romântica. Explora uma série de sentimentos e tem um refrão que fixa na cabeça. O principal ponto aqui é a paixão. A personagem usa das flores como metáfora ao sentimento e carinhos recebidos um dia e que a transformaram. Agora, com os personagens apaixonados, a letra questiona dizendo que a condição para isso é: “te ver cada vez que a Lua aparecer”, ou seja, uma certeza que temos na vida.
Concordam que é um paradoxo se fizermos planos para daqui semanas ou anos, se não crermos que o Sol nascerá amanhã de novo? Como podemos não acreditar que é certo a Lua voltar amanhã, ou o Sol, se estamos a todo momento deixando as coisas para depois? Ok, desculpe Menna, chega de filosofia e vamos curtir a canção!



As flores que você mandou
Eu guardei, eu plantei sim
Aonde agora existe amor
Nesse coração


Eu sei que as rosas vão crescer
Com você, vão querer sim
Mas só se você entender
A minha condição


Te ver cada vez que a lua aparecer
A única condição
Te ver cada vez que o dia amanhecer
E assim nossas flores vão viver


Tão logo quando o dia for
Noite vem, preta sem fim
Acende a minha estrela amor
Nessa escuridão


O sono você me levou
Mas fiquei, muito bem sim
Sonhando acordado eu vou
Na sua direção




4         4 – “Outra vez” – Marcus Menna/ Vitor Queiroz /Sérgio Morel/ Zé Henrique/ Marcelão
Essa canção mexe comigo pelo fato da coincidência com a história de vida de Menna. Parece que ela foi composta depois do acidente e não antes. Faça o teste e a escute imaginando que ele escreveu após 2004 e sinta-se espantado tal como eu. Sim, é uma canção de 2003!
A primeira estrofe deixa clara uma decepção vivida pelo interlocutor, seja ela de origem amorosa, familiar ou qualquer que seja, que será o motivo do desenrolar do restante da letra. Ensaiando o meu sorriso no espelho na esperança dele nunca me deixar é um verso que dispensa comentários sobre a sensibilidade de Menna. Realço aqui, a incrível habilidade de letrista, dizendo que a prosódia perfeita do seu disco é invejável!
A instrumentação segue pesada, com um riff de guitarra repetitivo, talvez sugestivo, ao título da canção, que imita a melodia da voz que entrará a seguir. Além disso, temos um arranjo de strings na metade da canção, que mostra uma preocupação em arranjá-la com capricho.


 
Quem traiu mais uma vez os meus segredos
Quem me ajoelhou foi quem me fez chorar
Fez da minha alma o seu novo brinquedo
Atirando do milésimo andar

Mas seu eu pudesse ter de novo os meus sonhos
Eu saberia onde posso encontrar
A felicidade desse tamanho
Pra recomeçar outra vez
Tudo outra vez

Ensaiando o meu sorriso no espelho
Na esperança dele nunca me deixar
Procurei intensamente outros desejos
Anestesiando só para aliviar

Quantas vezes a escuridão da solidão doeu
Acompanhada pela angústia que
Nunca me esqueceu não
.


 
 5 – “Amanhã não se sabe” – Sérgio Brito
Canção tema de Letícia e Gustavo em Malhação (2004) da Rede Globo. Composição de Sérgio Brito, ganhou uma releitura em que prevalece o violão. “Nós não conhecíamos a música, foi uma escolha do Rick. A letra tem uma infantilidade, no bom sentido, que a gente achou interessante, bem a nossa cara. Fizemos uma versão totalmente diferente, que se encaixa perfeitamente no disco”, acredita Menna, em entrevista ao site Universo Musical.
A canção faz parte do repertório dos Titãs e conta com uma letra em que tudo se parece com a escrita de Menna. Mal começou e eu já estou com saudade e Como as ondas com a maré, até onde não vai dar mais pé. Este instante tal qual é, vivo aqui e seja o que Deus quiser retratam o português afiado de Marcus e a sensibilidade em conectar a natureza e os sentimentos humanos, sem parecer frágil ou sem sentido.
A instrumentação conta com um violino solista ao meio da canção, dando um teor de country music. O instrumento segue pela canção e o capricho com a instrumentação também, com o piano, bateria, guitarras, ukulelê em perfeita conexão.



Como as folhas, como o vento
Até onde vai dar o firmamento
Toda hora enquanto é tempo
Vivo aqui neste momento


Hoje aqui, amanhã não se sabe
Vivo agora antes que o dia acabe
Neste instante, nunca é tarde
Mal começou e eu já estou com saudade


Me abraça, me aceita
Me aceita assim meu amor
Me abraça, me beija
Me aceita assim como eu sou
Me deixa ser o que for


Como as ondas com a maré
Até onde não vai dar mais pé
Este instante tal qual é
Vivo aqui e seja o que Deus quiser


Hoje aqui não importa pra onde vamos
Vivo agora, não tenho outros planos
É tão fácil viver sonhando
Enquanto isso a vida vai passando


Me abraça, aceita
Me aceita assim meu amor
Me abraça, me beija
Me aceita assim como eu sou
Me deixa ser o que for
Me abraça, me aceita
Me aceita assim meu amor
Me abraça, me beija
Me aceita assim como eu sou
Me deixa ser o que for


6         6 – “Aquele Olhar” - Paul Carrack e Mike Rutherford (versão: Marcus Menna e Rick Bonadio)
Outra regravação aparece ao meio do disco. Desta vez, a escolhida foi “Over My Shoulder” do grupo Mike and The Mechanics. Segundo o vocalista, escolha que sempre foi uma unanimidade na banda.
Menna é fã de Mike Rutherford, um dos autores da música e ex-guitarrista do Genesi, e acredita que a música reflete o alto-astral que o LS Jack procura transmitir em suas canções. Os trechos O brilho dessa vida foi te encontrar e “O passado já virou história e amanhã ninguém pode saber, mas o presente é todo seu agora por isso eu o embrulhei só pra você” são os versos mais lindos da música, na minha opinião.






Se eu fechar de novo os meus olhos
Ainda vejo aquele olhar
Eu posso sentir no fundo do peito,
O brilho dessa vida foi te encontrar
Se eu fechar de novo os meus olhos
Outra vez volto a sangrar
O meu coração não pulsa sozinho, nunca nessa vida vou te deixar
O passado já virou história e amanhã ninguém pode saber
Mas o presente é todo seu agora
Por isso eu o embrulhei só pra você


Se eu fechar de novo os meus olhos
Ainda vejo aquele olhar
Eu posso sentir no fundo do peito,
O brilho dessa vida foi te encontrar


Eu procurei a luz do seu caminho
E o meu destino soube-te achar
Esse feitiço dispara o meu sorriso
E nunca mais consigo disfarçar


O passado já virou história 
e amanhã ninguém pode saber
Mas o presente é todo seu agora
Por isso eu o embrulhei só pra você

Se eu fechar de novo os meus olhos

Ainda vejo aquele olhar
Eu posso sentir no fundo do peito,
O brilho dessa vida foi te encontrar


Se eu fechar de novo os meus olhos
Ainda vejo aquele olhar
Eu posso sentir no fundo do peito,
O brilho dessa vida foi te encontrar
 

7         7 - “Mais que Demais” - Marcus Menna/ Vitor Queiroz /Sérgio Morel / Bicudo
Sabe aquele priminho pequenino da família? Ou aquele animalzinho de estimação que dá vontade de apertar? Essa é a sensação ao escutar essa canção!
“Mais que Demais” é cativante e excepcional ao mesmo tempo. É a faixa mais curta do disco e muito rica em conteúdo. Com poucas palavras, o interlocutor induz a alegria de estar com a outra pessoa e essa felicidade é retratada nos versos: “Olha só o que eu encontrei: um casulo no meu jardim do mesmo jeito que eu desenhei, tão perfeito para mim”.
Sem dúvidas, a instrumentação desta canção é um caso à parte. A bateria pegadíssima de Bicudo unida às guitarras, ao solo de sintetizador e ao arranjo vocal desta obra, faz com que essa canção entre no seu repeat fácil, fácil!



Mais que demais colorido
 Se for você
 Mais que demais divertido
 Se é com você (só se for você)
 
 Olha só o que eu encontrei
 Um casulo no meu jardim
 Do mesmo jeito que eu desenhei
  Tão perfeito para mim
 
 Os meus sentidos na suas mãos
 Desnorteando assim
 Foi como chuva no meu sertão
 Linda lua de marfim
 
 De repente na sombra surgiu
 De repente o teto caiu
 Parece até de papel.
 
 

8       8 - “Sob o Céu” – Marcus Menna/Bicudo/Sergio Ferreira/Alexandre Lalas
Pop rock que fala sobre desamor. Canção com teor sensível, clareza da situação e, claro, prosódia incrível! A trama se passa por um rompimento de uma relação, na qual o interlocutor ainda sente amor e agora, também a dor da separação.
Assim, ele tenta se auto convencer de que não tem saída nem lugar para esquecer esse amor, pois a todo momento estamos “sob o céu e sobre o mar” - detalhe para o português bem ortografado aqui e que vem cada vez mais sendo reduzido pelos artistas contemporâneos -  e este é o único lugar para se esquecer e viver ao mesmo tempo. “Se era bom tudo em mim, não foi consumido, mas você diz que é preciso e só me resta aceitar”, passagem esta que destaca a inconformidade com o fato.
E seguimos nos espantando (no melhor sentido da palavra!) com a sensibilidade das letras e a capacidade de nos tocar com tanta simplicidade!




É difícil saber quando começar
E imprecisa a hora de tudo acabar
Muito mais ainda
Se todo o amor não se esgotou
Não foi consumido
Mas você diz que é preciso
E só me resta aceitar

É sob o céu
E sobre o mar
O lugar onde eu vou tentar
Te esquecer de vez

Não é fácil esconder tão bem a dor
Como é que eu faço pra não 
mais olhar para trás
Muito mais ainda
Se era bom tudo em mim
Não foi consumido
Mas você diz que é preciso
E só me resta aceitar

Queria ter poder pra transformar
Toda essa dor em quase nada



9         9 - “Tarde Demais” – Marcus Menna/Sérgio Morel
E depois de uma dose de alegria com “Mais que Demais”, chegamos em um momento de desamores do disco. Esta canção é mais uma das que abordam, musicalmente, o assunto da dor após o fim. “Sob o céu” já trazia uma característica de convencimento do fim, mas em “Tarde Demais” temos o interlocutor convencendo a outra parte que é melhor assim.
O trecho E antes que aumente a dor, esqueça tudo o que passou nos esclarece o diálogo dito anteriormente. Além disso, a instrumentação (mais suave e com guitarras limpas) nos traz essa sensação de tristeza e tentativa de se firmar para não, enfim, desabar.
Ao final, temos um riff de guitarras que traz o refrão final e remete à sensação de raiva por amor. Talvez, uma das músicas mais tristes do disco.



Tarde demais
A cidade adormeceu
Tarde demais o silêncio nos venceu
E se calou só para ouvir a tristeza chorar
Mais uma vez 3:30 da manhã

Fácil demais esse vírus infectou
Partes vitais no meu corpo congelou
E arrancou com duas mãos toda a vida em mim
Tarde demais nossa história chega ao fim.

E antes que aumente a dor
Esqueça tudo o que passou
Pra nunca mais

Tarde demais esse tiro atravessou
Tarde demais o meu peito acertou
E dividiu o coração me tirando a paz
Perto do cais engolindo a própria voz

E antes que aumente a dor
Esqueça tudo o que passou
Pra nunca mais
O tempo vai reconstruir
Os pedaços que perdi
Pra nunca mais

Tarde demais pra se arrepender!
Tarde demais não sei quem é você!
Tarde demais pra se arrepender!
Tarde demais não sei quem é você!

 

1      10 – "Alucinação" – Marcus Menna
Esta canção segue a linha proposta pelo disco, que se iniciou de forma amorosa, passou por alegrias, desamores e agora, retrata diretamente as dores e sobre todas as alucinações causadas por ela.
A melodia de poucas notas do verso, indica algo que fica batendo na sua cabeça, como um pensamento que não se esvai. A dor chantageia a personagem e ela se encontra numa situação como acordar cedo e ver um outdoor da sua dor, dizendo que te pega um dia.
A pegada da banda é incrível nesta canção: as guitarras distorcidas, a linha de baixo bem destacada, as dobras vocais e a letra com as terminações "ento" e  “ente” trazem esse ar alucinógeno mesmo.
O disco, então, já se encaminha para a parte final...



Nesse esquecimento
Um pressentimento
Rola aqui por dentro
Sempre me dizendo
Que a saída acabou de sair
Não te esqueceu e só falava assim
Ser humano é ser afim
Agora quem vai olhar por mim

Quando a minha dor
Me acordar bem cedo
Dizendo em outdoor
Um dia eu te pego
Cê pode até correr
Eu já estou dentro de você

Vejo claramente
Nebulosamente
Paranoicamente
Mente a sua mente
No que você sente
Paralelamente
Tão de repente que parece ser
Ser humano é ser afim
Agora quem vai olhar por mim

Preciso precisar
Preciso ser preciso
Preciso relaxar
Preciso do meu vício
Preciso encontrar
O fim do precipício, eu sei


11- “Você Me Faz Tão Bem”  - Marcus Menna
Tem espaço para um reggae aí? Claro que sim!
Além desta, novidade temos também a presença do baixista Arthur Maia, que participou da gravação da música.
O convite partiu do, também baixista, Vitor Queiroz, fã assumido do músico da banda de Gilberto Gil. “Estávamos assistindo a um DVD do Gil, e o convite surgiu a partir daí. O Arthur Maia domina o reggae. Ele é meu ídolo, uma referência pra mim”, derreteu-se Vitor ao contar em entrevista ao site Universo Musical.
O disco retorna com a mensagem do amor, da idealização deste sentimento e da personagem amada. E temos aqui, algumas afirmações de que não dá para ficar sem ela, o que pode ir em desencontro às tentativas de se conformar que vieram nas canções anteriores.
Versos como: Não quero mais ficar sem esse seu cheiro de flor e “Aqui vou ficar, não vou arredar, meus pés vão grudar se você passar”, nos esclarecem a decisão de lutar pelo amor e que ficar sem tê-lo pode não ser o melhor caminho.
Chamo a atenção para a linha do baixo, que como afirmou Vitor, realmente é de grande categoria!



Aqui vou ficar
Não vou arredar
Meus pés vão grudar
Se você passar
 
No jogo de azar
A sorte te espera
E logo me jogo
Disposto a ganhar
E ninguém pode te ajudar

Eu sei que você me faz tão bem
Não quero mais ficar sem
Esse seu cheiro de flor
Que você tem

Aperta de um jeito
Seu shape perfeito
Acende direito
Um lampejo em mim
Transbordando assim
Desejos sem fim
Eu não vou lutar
Jah já vai nos levar
Pro nosso amor abençoar.

1     12  – “Se For Será” - Marcus Menna/ Vitor Queiroz /Sérgio Morel / Sérgio Ferreira
Parece uma anunciação do trabalho que estaria por vir: O Jardim de Cores (2004).
É difícil descrever esta canção dentro do contexto das anteriores, já que transparece, musicalmente, com um pop rock, sem grandes novidades, mas com uma letra que não cita o amor, não cita a dor, apenas anuncia o que será tratado no próximo disco: essa questão espiritual e astrológica.
“Lá longe se esconde um mundo distante de nós, espero a ponte, até o horizonte vou voar”. Esse verso deixa claro a intenção de Menna em retratar relações cósmicas e energéticas dos seres humanos com todo o resto. A canção é ótima e serve de carro chefe para os próximos trabalhos da banda.
 
Ah se o tempo me prometer
Que nunca vai acabar
Ah eu juro nao esquecer
O quanto a vida pode me dar
Procurando um som pra me conectar
Uma sensação enigmática
Nessa onda eu vou ate o sol raiar
Seja como for, se for pra ser, será
La longe se esconde
Um mundo distante de nos
Espero a ponte
Ate o horizonte vou voar.
1

    13 - "Sem Radar”[Acústica] – Marcus Menna

Essa regravação acústica acrescenta uma introdução de dedilhados ao violão e um arranjo de “Strings” ao corpo da música.
As partes são as mesmas. Talvez, o fato de regravá-la, a banda tenha um objetivo de promover esta linda canção, que já tinha feito sucesso como single, antes do lançamento do disco, terminando aqui um álbum completo e marcante para mim, e para uma geração que com certeza, pode ter se recordado destas belas composições.







A história de vida de Marcus Menna é vista e revista dentre os principais veículos jornalísticos vespertinos da rede brasileira de televisão. Ok, se fui confuso, eu quis dizer que histórias como a dele, são alvos destes programas sensacionalistas que se mordem por audiência nas tardes.
Vale relembrar aqui que Marcos Menna, vocalista e compositor do LS Jack, passou por complicações em uma cirurgia de lipoaspiração, no ano de 2004, que o deixou por alguns minutos sem oxigênio e em coma induzido por quase 3 meses.
Mas sua persistência permitiu o retorno à banda, à música e, pouco a pouco, aos holofotes da imprensa. Mesmo com sequelas, o músico está envolvido em projetos e na divulgação de seu trabalho até mesmo pelas redes sociais, onde eu, particularmente, o acompanho.
A sua incrível força de vontade é repercutida em toda internet e Menna é visto como um ícone de alguém que passa por uma dificuldade, aprende a lidar com ela e dá a volta por cima!
Toda sua força e carreira não podem ser retratadas apenas numa simples postagem, mas que espero que todo este texto seja para acrescentar a você, caro leitor, a importância que o vocalista – junto à banda -  e grande músico contribuiu e contribui até hoje para nossa cultura e riqueza musical. E encerro aqui a descrição à história de Menna, que é inspiradora, talvez triste, mas cheia de chama motivacional para qualquer ser humano!
Meu muito obrigado por me inspirar, Marcos Menna e LS Jack!